"Não tenho tempo..."

Quantas vezes ouvimos isto?
"Nâo tenho tempo..."
Quantas vezes por mês? Quantas vezes por semana? Quantas vezes por dia?
Quantas pessoas repetem esta frase: "Não tenho tempo..."
Ou até acrescentam (sempre muito bem intencionadas): "Eu gostava de fazer isso mas, infelizmente, não tenho tempo!"
E depois há algumas variantes que vão dar ao mesmo: "ainda não tive tempo", "mas eu ainda não parei", "tenho andado a mil", "agora tenho muito que fazer", "agora não dá"...
Ou ainda outras variantes que podem ser chamadas de pontapé para a frente como por exemplo: "quando tiver tempo", "quando passar esta fase em que, de facto, estou com uma sobrecarga grande", "agora tenho mesmo que fazer isto e não tenho tempo para mais nada"...

Enfim...
Parecem-me frases recorrentes em várias pessoas que nos rodeiam.
Eu já ouvi estas frases na primeira pessoa e estou convencida que, também eu, já as proferi... hoje em dia, fujo a sete pés deste tipo de frases.
Contudo, como são frases que estão na moda, receio que alguma vez me possa escapar uma frase destas, que justifico por efeito de contágio!

Posto isto, tenho uma declaração a fazer:
- ADORO pessoas que, de facto, não têm tempo! Pois são aquelas que arranjam sempre um tempinho para mais alguma coisa!
- E DETESTO pessoas que dizem que não têm tempo! Porque acredito que, esta, seja uma forma de se queixarem da vida que têm, sem que ainda tenham percebido que essa triste vida se deve ao facto de estarem tão "embrulhadas" no rodopio de tarefas, sem conseguirem distinguir o que é realmente importante para elas!

Além desta declaração, gostaria de transmitir uma novidade:
- TODOS TEMOS OS MESMO TEMPO!
Novo?
Parece novo?
É mesmo uma novidade!
Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja lá quem for, Ele ou Ela, ou a força maior, ou alguém no passado estipulou que o dia teria vinte e quatro horas e que isso corresponde a uma volta da Terra sobre si própria, aprende-se em Geografia (no ensino obrigatório) que é o movimento de rotação da Terra!
Ora, estamos todos neste carrocel... Todos os dias, todos nós, damos uma voltinha em 24 horas!!!
Incrível, não é?
É mesmo incrível!
Todas as pessoas a darem a mesma voltinha... aquelas que dizem que não têm tempo, as que, de facto, não têm tempo, e também todas as outras!
É certo que a latitude nos pode trazer mais ou menos horas de luminosidade, mas as circunstâncias/os contextos também nos ensinam a viver com isso e a adaptar as nossas vidas ao meio ambiente. Desenvolvemo-nos através da nossa adaptação ao meio ambiente - e não sou eu que digo, é o jovem Darwin!

Bem, parece-me que já chega de repetir essas frases do "Não tenho tempo"!
Está na altura de parar com esta desculpa!
Sim, desculpa... desculpa para continuar sem parar para pensar no que é realmente importante e definir prioridades!
Tu tens o mesmo tempo que eu tenho.
Todo temos o mesmo tempo!
Parece-me mesmo que a resolução passa por parar e pensar no que é mais importante e hierarquizar as prioridades, de modo a afectar o nosso tempo de forma coerente e consistente com aquelas que são as nossas prioridades.
De outra forma, que sentido poderá ter a vida?

Eu e eu



 

Por que é que havia de me sentir sozinho?

Raras vezes na minha vida, desde que me lembro de mim, tive um sentimento de solidão.

E não me sinto mal na minha companhia, divertimo-nos muito os dois, eu e eu.

Não me aborreço.

António Lobo Antunes

A Liberdade é a Possibilidade do Isolamento

A liberdade é a possibilidade do isolamento.
És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento.
Se te é impossível viver só, nasceste escravo.
Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre.
E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente.

Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo.
Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres.
Essa sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.

Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'



Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a procurar-nos noutras metades.
Para viver a dois, antes, é necessário ser um.
Fernando Pessoa