Benefício da dúvida

Mas afinal o que é isso do "benefício da dúvida" e que importância tem?
Para mim, é das características mais importantes e mais nobres da personalidade de alguém: ser capaz de dar o benefício da dúvida.
Aliás, só o facto de ser capaz de dar alguma coisa, já tem muito mérito - a menos que o que se esteja a dar seja alguma estalada, algum pontapé, ou porrada, enfim! :-)
Mas porque é que me lembro de falar desta coisa de "dar o benefício da dúvida"?
Porque desconfio sempre muito da convicção com que algumas pessoas dizem certas e determinadas afirmações e da teimosia com que defendem certos e determinados argumentos.
Acho que há um nome para isso: acho que lhe chamam teimosia! E a teimosia pode ser boa quando mostra que alguém não desiste facilmente de alguma coisa mas, não raras vezes, é algo diferente que acontece com alguém teimoso... parece-me que, na maioria das vezes, o teimoso não vai mudar facilmente de opinião, simplesmente para não demonstrar a sua insegurança. E, mais uma vez, a insegurança revela-se uma enorme condicionante das atitudes das pessoas e até da formação da sua personalidade! A insegurança está sempre lá!
Mas, voltando ao "benefício da dúvida", que está nos antípodas da teimosia, é um exercício muito simples e que ajuda muito à convivência em sociedade e até a criar mais empatia.
Não custa nada! Para fazer este exercício basta pensar: por que é que a outra pessoa tem uma opinião diferente da minha?!
À primeira vista parece que o que está a dizer é um perfeito disparate mas, a verdade é que, se o está a dizer, terá os seus motivos, os seus argumentos, estará a ver de um ponto de vista diferente, terá mais informação do que eu, poderá ter sido influenciado por variáveis diferentes, poderá estar num outro contexto, enfim, o que importa é que valerá a pena admitir, nem que seja por um momento: e se for verdade? e se, efectivamente, puder ser aquele o ponto de vista mais indicado. Deste lado não parece nada, mas do lado de lá, parece! Por que não, pelo menos, considerar a possibilidade? Há situações em que a razão pode estar repartida: de um ponto de vista sou eu que tenho razão, do outro ponto de vista, és tu quem tem razão! Por que não admitir que podem existir diferentes pontos de vista e diferentes razões para defender esses pontos de vista? Será preferível ficar numa conversa de surdos em que se está tão convicto dos motivos que nos levam à teimosia que nem abrimos um pequeno espaço para ouvir o outro? Por que não paramos para lhe dar ouvidos e até lhe dar o tal "benefício da dúvida"?
Porquê insistir na teimosia se as pessoas podem, de facto, ter pontos de vista diferentes?
Será que custa assim tanto dizer: oh pá, és capaz de ter razão, não estava a ver a coisa dessa maneira... oh pá, acho que estás enganado, mas eu vou verificar... oh pá, eu estava convencido que estava certo, tens a certeza do que estás a dizer?
É difícil, não? Será mesmo assim tão difícil?

Post Scriptum provocador: alguém um dia dizia "eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas". Na altura, foi muito criticado mas, hoje em dia, parece ser cada vez mais citado, e quando não é citado, parece que se insiste em praticar aquela célebre frase! Ups...

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